Então ela me disse: “Eu sei o que quero”

Foram entrando em minha pequena sala, ela foi à última. Antes de qualquer coisa, fui quebrando o gelo com brincadeiras para descontrair, seus olhos tímidos mostravam que não era de muita prosa. Sua mãe, olhando orgulhosamente para a menina, me comentou que nunca tinha reprovado. Estava no quinto ano. Com todas as adversidades que ela tem, essa notícia era digna de nota. Uma campeã. A pequena menina gosta de estudar e fazia tudo com o maior apresso.

Sua família é uma das mais pobres que atendemos. Barraco de madeira, chão batido e animais em volta da casa. Às vezes tem que faltar para ficar tomando conta da cabra da família. Usa roupas simples e seu cabelo é carregado da poeira pálida daquele lugar. Sua pele escurecida pelo sol contrasta com a poeira que gruda como cola. Ela tem uma beleza típica do Sol Nascente.

Não aguentei: “O que gostaria de ter? Vai que eu posso te dar”. Antes de continuar gostaria de dizer que faço isso direto com as crianças. Sempre libera sorriso e olhares constrangidos. É uma porta ilusória para aqueles que nunca sonharam em tal possibilidade de acontecer. Pode pedir! Vai que eu compro! Não há arrependimento para quem faz os olhos das crianças brilharem.


“Não há arrependimento para quem faz os olhos das crianças brilharem.”

Pela primeira vez não tive uma resposta favorável. Dei algumas opções, mas não foram boas aos seus ouvidos. Então decidimos esperar, quando tivesse uma resposta poderia me procurar. Assim acabou nossa reunião.

Alguns dias depois, em nosso acolhimento de famílias, após a dispensação das pessoas, notei a presença dela sentada com sua irmãzinha. Estavam invisíveis até todos se levantarem. Sem entender me aproximei. Então, estendeu o dedo indicador para o alto e com um sorriso faceiro disse: “Eu já sei o que quero”.  A minha ficha caiu, ela tinha voltado para completar nossa conversa. Sentei-me perto e joguei meu corpo para frente para me atentar as suas palavras. “Quero uma bicicleta”. Uau! Seu sorriso mostrava o contentamento do que tinha acabado de fazer. Ela estufou o peito semelhantemente a quem recebe uma medalha. Então eu fui invadido de uma alegria maior ainda, pois, estava vivendo naquele momento uma das maravilhosas coincidências de Deus.

No dia anterior, troquei mensagens com um pintor, ele iria dar um trato em nossa base. Combinara sua visita para o próximo domingo. Esse também montava bicicletas para vender. A oferta e procura se encontraram. Ele viria para orçar o seu trabalho, por que não trazer uma bicicleta? Que feliz coincidência. Deus estava um passo a nossa frente.

Eu fique com um sorriso de canto de boca, não dava pra esconder. Convidei-a para retornar no domingo com sua família. Vai que aparece uma bicicleta! Sei lá, né!

E ela retornou sim, agora com sua família. Estava lanchando na salinha junto com as outras crianças quando ele chegou com seu presente. Tinha um quadro rosa e peças usadas de outras bicicletas, a resposta que ela queria já estava na porta. Ao som dos muitos obrigados de sua mãe, ela subiu corajosamente na magrela e saiu a pedalar felizmente para sua casa.

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Moisés Nogueira de Faria
Presidente da Corrente do Bem Brasília / Generosidade.org