Acreditamos sim, pois elas ainda tem possibilidades

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Estávamos em nossa primeira visita quando ela passou de relance pela porta. A mãe chamou e ela intimidou-se. Aí não resisti, também chamei: “Camila? Entre!” Ela foi para ao lado da geladeira timidamente. Perguntei sua escolaridade e ela respondeu: “6ª série”! Ela já tem dezoito anos e está sete anos atrasada. Sua mãe chegou até a oitava. Ela já não gostava de estudar e a falta de recursos e dificuldades para ir ao colégio se tornam impedimentos para que ela permaneça dentro. Ela é uma boa pessoa, dá pra ver no seu rosto. Ela fica a tarde como babá dos primos para que a tia possa trabalhar.

Quando perguntei o que gostaria de ser profissionalmente, ela se fechou ainda mais. Então brinquei: “Se eu fosse um homem muito rico e fosse bancar os seus estudos, o que gostaria de ser?” Ela riu, se soltou um pouco, mas disse que não sabia. Insisti um tantinho, dei algumas possibilidades, mesmo assim dizia não saber. De fato, ela não sabia mesmo, acredito que nunca teve uma possibilidade assim, quando essas são escassas algumas pessoas deixam de sonhar. Ela não pensava nada para o futuro, em sua humilde casa recém-alugada por 200 reais, uma faculdade futura está fora de cogitação. Ela vê a labuta da sua mãe para cuidar de quatro dos nove filhos, de “bico” em “bico” a família sobrevive o mês; então uma faculdade, um bom trabalho ou uma vida longe dali é distante do seu imaginário.

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“De fato, ela não sabia mesmo, acredito que nunca teve uma possibilidade assim, quando essas são escassas algumas pessoas deixam de sonhar. “


Parte do nosso trabalho é reacender os sonhos, abrir a mente, criar possibilidades, arrancar sorrisos inesperados e marejar os olhos. E foi isso que aconteceu com ela. Seu olhar se acendeu e para quem estava em uma rua sem saída, ela conseguiu ver uma escadaria de escape. Ela não precisa parar na 6ª, mesma atrasada, ela pode continuar adiante. Mesmo sem possibilidades, Deus providenciará pontes para ela continuar. Oramos então, Deus não apaga o pavio fumegante, acendeu uma chama em seu coração.

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Em nossa segunda visita a cena se repete. Agora é Lorrane. Ela tem quinze e está na 6ª série também. Na verdade já tem alguns meses que ela não pisa no colégio. Fiz a mesma pergunta: “O que gostaria de ser?” Ela disse sem titubear: “policial”. Em nossas visitas a policia é noventa por cento das escolhas, acreditamos que esteja relacionado com a realidade deles. Eles vêm poucos engenheiros, dentistas e médicos, mas muitos policiais.

A conversa se repetiu, assim como o brilho no olhar. Ela sobrevive com pouco, racha a pequena casa com cinco irmãos e tem outro preso há seis anos. Sua mãe labuta para sustenta-los. Oramos a Deus, ele pode acender essa chama no coração da Lorrane também.

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Em nossa terceira visita encontramos Cauã. Ele está na 6ª série também, mas tem somente doze anos. Perdeu um ano, pois mudou de cidade e não conseguiu achar vaga. Elogiado pela mãe, é esforçado nos estudos e evita às más amizades. Dá pra sentir que ele vai longe, é focado e centrado aonde quer chegar. Um de nós passou depois para deixar os materiais de estudo que a mãe pediu em nossa última visita, lá todos estudam com muito gosto.

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Acreditamos em todas as possibilidades, tanto na Camila com dezoito, quanto na Lorrane com quinze e ainda mais no Cauã com doze. Todos tem uma vida pela frente, mesmo com poucas possibilidades, eles têm opções em suas vidas e podem fazer boas escolhas. Os cobrimos de orações e cremos que eles todos são uma boa geração que vale a pena ser investida.

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Veja algumas fotos na Equipe 5 na última visitação: