“Nessa hora eu acordei”, o descobrimento de uma realidade

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Mais uma manhã de sábado, mas não é qualquer um, é o dia em que percepções e vidas serão mudadas. Chego ao Sol Nascente como uma estrangeira em terra natal. E foi ali que eu acordei de fato. Conheci Sofia. Cumprimentei a todos e por fim abraço e cumprimento Fabiana, que com muita alegria me apresenta sua filha aniversariante, Sofia. Minha afeição por essa menina veio desde aquele momento que lhe abracei pela primeira vez. Mas logo veio a frase “estou com fome”, respondi “calma, já já você vai comer”, mais um tempo de conversa e Sofia me confessa “meu pai me bate, me machuca”, nessa hora eu acordei. E durante muito tempo Sofia me contava do seu mundo onde o amor não o era apresentado. Tudo que pude dizer foi: “o mundo vai ser melhor para você, mas hoje é seu dia, aproveite, hoje é dia de alegria”. Ah Sofia, como me doeu ver que logo tão cedo você descobriu e sentiu na pele as injustiças, egoísmos e desafeições desse mundo. Acordei. O dia não começou no momento que levantei da cama, começou ali. Tenho que me despedir de Sofia, as visitações nas casas vão começar.

E foi-se a primeira casa, infelizmente a Antônia não teve muito tempo para nos receber, além do mais a timidez ao ver rostos novos a retraiu. Tudo bem, mês que vem não seremos mais estranhos. Vamos a segunda família. Uma linda mulher com um sorriso genuíno abre o portão para nos receber. Renata, mãe de quatro filhos e casada com o Anderson. Mas ele não se encontra, está em um acampamento em Santo Antônio faz 8 meses, longe da família. O motivo dessa separação, segundo Anderson, é devido ao seu esgotamento da convivência na cidade e a busca de uma vida mais tranquila que a roça proporciona, quer “espairecer” a mente. Mais um tempo de conversa e é descoberto que Anderson também possui uma doença grave, um câncer na garganta. E com os relatos trazidos por Renata de como Anderson vê e reage a situação, nos faz perceber o quanto que ele está sofrendo por estar doente e se isola por acreditar que de longe vai conseguir fazer algo melhor para sua família e deixar algumas coisas caso ele venha a falecer. Enfermidade interna somada a enfermidade externa.

Consideramos ir visita-lo para que ele entenda que a família precisa dele e que com ela, ele pode se cuidar melhor. Logo depois vistamos a apaixonada e incompreendida Francisca, que está progredindo junto com seu companheiro Gil para uma vida melhor, mas ainda há o que melhorar em seu relacionamento. Depois de um café nos despedimos, é hora de visitar outra família. Ana Paula e Anderson tem dois filhos pequenos, o Gabriel e a recém-nascida Brenda. Mais uma vez me deparo com pequeninos que enfrentam a realidade bruta que o próprio homem construiu de um mundo desigual. Infelizmente Anderson não pode trabalhar devido a uma deficiência na mão provocada por um acidente e Ana Paula também se encontra desempregada. Discutimos mais questões acerca dos relacionamentos familiares e aconselhamos Anderson. Partimos para mais uma casa. Luci, com o coração aberto compartilha conosco seu testemunho de superações e desafios. Uma mulher temente a Deus e de muita fé, que me inspirou muitíssimo. Seguimos com as visitações, e essa é a última do dia. Um lar simples e sem concreto, casa da Graça e da Leninha. Elas trazem boas notícias: prosperidade.


“Por fim, nos reunimos e selamos aquela manhã de visitações com mais uma oração e palavras de gratidão.”

Por fim, nos reunimos e selamos aquela manhã de visitações com mais uma oração e palavras de gratidão. Saio dali com um rebuliço de sensações e pensamentos, mas com a certeza de que o meu propósito está firmado em pelejar de todas as formas que estão ao meu alcance, de fazer um mundo melhor para Sofia. Para Antônia. Para Francisca. Para Renata. Para Anderson. Para Ana Paula. Para Gabriel. Para Brenda. Para Luci. Para Leninha. Para Graça.

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Clarissa Martins
Voluntária e Doadora